quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aprendendo com os não ouvintes: um convite ao diálogo.

Por Naara Pereira da Silva Castro.

A leitura de Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos, de Oliver Sacks(2010),teve no mínimo dois efeitos sobre meu pensamento, o primeiro, fez- me sentir, como o autor, em um abismo de desconhecimento sobre a atividade intelectual dos surdos, mais do que isso, fez-me parar e ouvir sobre o esvaziamento do próprio sentido da existência perdido pela não apropriação de uma língua. O segundo abriu um processo de reflexão em cascata, que me possibilitou elencar algumas questões, para as quais careço maior estudo e observação dos cotidianos, os quais são repletos de linguagens:
Qual seria a experiência de pessoas que, embora ouvintes vivam em estado de surdez profunda, se de repente dessem conta de que aprisionaram a linguagem na ensurdecedora palavra falada/escrita? Drumonnd já nos dizia que “a luta com palavras é uma luta vã”, ao passo que do lugar de ouvintes/falantes não nos permitimos realmente ouvir, sentir em nossas aprendizagens cotidianas as preciosidades dos diferentes sons dos quais nos tornamos cativos, mas cativos da reprodução, do fascínio pelo domínio de um discurso que empodere. Assim, pouco ouvimos, pouco apreciamos a dádiva de poder ouvir as diferentes vozes ecoantes em nosso mundo contraditório. A contradição é a marca de nossa condição humana, já que somos nós, humanos, quem cria e recria o mundo a cada novo dia. Por que ao invés de lutar pela posse da palavra não nos deleitamos com os múltiplos sentidos que elas carregam e não nos permitimos perscrutar as vozes não ouvidas, silenciadas, apagadas por manifestarem outra forma de ser e estar no mundo?
Tal leitura me remeteu ainda à intrigante investigação de Vygotsky sobre pensamento e linguagem, levando-me à ampliação das perguntas que movem meu querer saber, formulando assim, outras questões enquanto lia a obra, dentre as quais: A dimensão humana vem pela linguagem ou pela cultura? E à medida que avançava nas páginas fui construindo saberes e compreendendo que a linguagem está na cultura, se faz e refaz na cultura.
E de fio em fio cheguei à minha pesquisa, a qual investiga a apropriação da linguagem escrita pelas crianças de classes populares, na escola pública. Tendo como foco compreender por que as crianças, que na vida cotidiana são capazes, criativas e inovadoras fracassam na escola na aprendizagem da linguagem escrita, faço agora uma ponte perguntando-me qual seria a relação entre os sujeitos interditados de linguagem por conta de uma surdez e as crianças ouvintes na apropriação da linguagem escrita? Não estaria na forma como a linguagem é concebida e, por conseguinte tratada nas práticas alfabetizadoras a grande questão para se rediscutir a alfabetização?
Acompanhando as narrativas de Sacks, nas quais as histórias de surdos congênitos no enfretamento dos limites apresentados ao processo de interação social e a emergência de significar uma língua para construir um sistema de linguagem que lhes permitam articular o pensamento, construir imagens e a própria consciência de si, ajudam-me a pensar que na linguagem se consolida a passagem da inteligência prática para a abstrata. Dessa forma, indago o que é feito em nossas classes de alfabetização, nas quais em muitos contextos, não poucos, a linguagem fica de fora, o que se apresenta à criança é a representação de uma técnica?
Temos acompanhado uma vasta literatura a respeito do fracasso das alfabetizações, principalmente no contexto das escolas públicas, mas que espaços têm sido oferecidos às crianças de interação com a linguagem? Os municípios buscando a elevação dos índices de aproveitamento dos alunos vêm mudando as propostas, investindo em programas cujos métodos, não consideram as linguagens nas quais a criança aprendeu a se comunicar e a significar o mundo.
Como dizer se nossas vozes de professoras alfabetizadoras são silenciadas, desqualificadas e intrepidamente desautorizadas a pensar? Convido outros pesquisadores, professores alfabetizadores ao diálogo. Ainda que não tenhamos respostas façamos perguntas, elas nos movem, fluem em inquietações, provocam a reflexão da prática, buscam conexões itinerantes, quem sabe desviantes.
Referência:
SACKS, Oliver W. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das letras, 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

“Dando à luz a pensamentos ainda não nascidos”

Por Juliana Bello


Encontros, desencontros, embates, trocas... Nossos diálogos nos tornaram grávidos de anseios e de sonhos; grávidos de experiências compartilhadas e de “pensamentos ainda não nascidos”, que se caracterizam, na concepção de Oliver Sacks, como aqueles que correntemente as “pessoas ainda não refletiram, mas deveriam refletir”. Nesse sentido, ler Sacks, mais especificamente o livro “Vendo vozes” (2010), foi um exercício do “dom obstétrico” ressaltado pelo autor: dom de dar à luz aos pensamentos novos, descobrindo as perspectivas inesperadas da condição humana, as diferentes maneiras de viver e experimentar a humanidade.
Embora a surdez represente o tema central do livro, tal como as possibilidades de desenvolvimento com o auxílio de uma língua completamente visual, a leitura nos convida a pensar a pluralidade presente nas formas de aprender, de se relacionar, de se comunicar... de viver. Se a língua visual nos revela, como afirma Sacks, “a ilimitada flexibilidade e capacidade do sistema nervoso”, por que desconsideramos, por vezes, as linguagens, as lógicas, os saberes e as experiências de sujeitos que nos revelam outras perspectivas? O outro que nos desafia, com o seu comportamento e com a sua linguagem que nos são estranhos, não estaria nos ajudando a pensar que um modelo único de desenvolvimento humano não é capaz de abarcar a complexidade de ser/tornar-se humano? É diante do enigma do outro que damos à luz a pensamentos ainda não nascidos...



(Frida Kahlo: Nascimento, ou O Meu Nascimento, 1932)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?"

Por Juliana Bello

Helen Keller (1880-1968), uma mulher extraordinária, cega, surda e muda desde bebê, nos chama a atenção para a apreciação de nossos sentidos, algo que normalmente não percebemos. Apenas de posse do sentido do tato e uma perseverança inigualável, sob a orientação de Anne Sullivan Macy, Keller pôde aprender a ler e escrever pelo método Braille, chegando mesmo a falar, por imitação das vibrações da garganta de sua preceptora, as quais captava com as pontas dos dedos. O esforço de sua mente em procurar se comunicar com o exterior teve como resultado o afloramento de uma inteligência excepcional, considerada a maior vitória individual da história da educação. Ela foi uma educadora, escritora e advogada de cegos:

"Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silencio lhe ensinaria as alegrias do som.
De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. “Nada de especial”, foi à resposta.

Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tacto encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.

Eu dividiria esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo “ver” as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.

Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?

Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.
Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!

O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.

À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir.

No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.

Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.

Minha parada seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.

Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tacto. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.

À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restricta ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso. Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.

Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.

Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.
Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.

Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.

Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas acho que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano.

À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.

Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Mas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual. Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.

Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos, estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso".

Publicado no Reader's Digest (Seleções)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Por uma educação que liberta potencialidades


Por Mariana Amaral

“Nada é mais prodigioso, ou mais digno de celebração, do que algo que liberta as capacidades de uma pessoa e lhe permite crescer e pensar”
(Vendo Vozes - Oliver Sacks 2010:29-Companhia de bolso)

A gente se torna professor pensando nisso, poeticamente dizendo, em levar o outro a tornar-se rio, desaguar, refazer-se, transbordar, encontrar seu próprio rumo.
Quando li no livro, de Oliver Sacks, a epígrafe deste texto, lembrei-me de dois autores: Paulo Freire e Leonardo Boff. Paulo Freire nos fala sobre a possibilidade de um fazer pedagógico que propõe a transformação da realidade a partir do entendimento que vamos tendo que somos todos sujeitos: pensamos, possuímos saberes, leituras, experiências que podem contribuir com a educação de si mesmo, do outro e com a construção da realidade. Para isso é necessário que nossas capacidades sejam despertas, então, não seria ensino onde o predomínio seja transmissão; mas sim um processo de construção de saberes, de ensinaraprender. Uma educação com, diferentemente do para, permite que o outro cresça, desenvolva-se, abre espaço para expressão de pensamentos, curiosidades, desejos: esse é um caminho que pode ajudar a libertar capacidades.
Boff, em seu livro “A águia e a galinha- uma metáfora da condição humana” nos conta uma história africana (cuja autoria Boff atribuí a James Aggrey que lutou pela libertação de Gana embora não a tenha visto) de uma águia que foi criada como uma galinha,no meio de galinhas e adquirindo todos os hábitos galináceos: ciscar, voar baixo, olhar para o chão. Impossibilitada de desenvolver suas capacidades a águia levava uma vidinha medíocre. Suas capacidades estavam inertes e eram desconhecidas para ela mesma. Até que um dia, surge um naturalista que vendo a águia naquela condição convence ao proprietário de que mesmo tendo passado um bom tempo de sua vida como galinha todas as capacidades da águia estavam nela, adormecidas e se despertas ela seria uma águia e jamais voltaria a comportar-se como galinha. O proprietário daquela atípica águia, ainda duvidando, topou o desafio. Levantaram-se cedo e levaram a águia no topo de uma montanha, viraram os olhos da águia para o sol, permitindo que sua visão se expandisse, deixaram que ela visse o céu, o horizonte, sentisse a altura. E aí,a águia abre as asas e voa em direção às alturas.
Recontei aqui a história, você pode lê-la integralmente no livro que citei. Mas por que me lembrei desta história? Você já deve estar concluindo...
Somos educadores de escola pública e muitos de nossos alunos são como essa águia, vivem com suas capacidades inertes, adormecidas, nem mesmo sabem que as possuem. Muitos já acreditaram em um discurso despotencializador que circula aqui e ali na escola. Acreditaram porque a vida lhes é dura, com muitos desafios e negações e a escola, tristemente, tem se tornado mais um ambiente de negação. Nós, professores, deveríamos ser como esse naturalista, enxergar a capacidade dos alunos e levá-los ao despertar. Conduzi-los ao alto da montanha (levá-los um passo adiante, prezar pela sua aprendizagem), deixar que o sol lhes abra a visão (que conheçam, que façam perguntas, que descubram), deixar que vejam o céu (percebam o quão imenso é o universo e o quanto ainda temos a conhecer e a crescer) e sintam o vento (sintam-se capazes) e, convidados, impulsionados a voar, abram suas asas (desenvolvam-se, libertem-se) e alcem voos altos (encontrem seus caminhos) porque libertaram suas capacidades.
O desafio que o naturalista fez ao proprietário é parecido com o desafio que temos diante de nós ao entrar em sala de aula. Muitas pessoas, assim como o proprietário da águia, duvidam do potencial das crianças; acham que por serem de classes populares, morarem em determinados lugares, serem de determinada família; não irão muito longe. Passarão suas vidas com voos rasantes, olhando para o chão, ciscando. Nosso desafio consiste em ter a mesma determinação do naturalista, acreditar que em cada criança há potencialidades, capacidades a serem libertas, despertas. Acreditar que a condição de galinha não é a condição final, mas sim a condição muitas vezes imposta. Inventar o possível (lembrando-me da introdução ao livro A Cultura no Plural de Michel de Certeau) enfrentando as condições de impossibilidades postas conduzir nossos alunos ao alto da montanha, local onde também poderão encarar o sol, o horizonte e alçar voos altos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Por: Liliene Maturana/Lili 06/05/2010

Por: Liliene Maturana/Lili 06/05/2010

O que mais me marcou sobre a nossa discussão do “capítulo 2” foi o imenso poder do ”abstrato”; daquela capacidade de “abstração” que ainda é tão pouco compreendida. E , nesse sentido é que percebemos que a língua de sinais é a mais profunda expressão dos pensamentos, das aspirações e das visões de mundo. Quando me dei conta, segundo as palavras do autor, de que a língua de sinais é a “voz do usuário”, ou seja, a materialização da sua identidade, da sua cultura, das suas religiões, das sua existências (...) eu comecei a pensar sobre o processo de aprendizagem das minhas crianças, quer dizer, comecei a pensar sobre aquilo que a escola como “instituição oficial do saber” afirma ser óbvio: se você ensina então a criança aprende e acabou. Daí percebemos que não é bem assim, porque a complexidade dos processos mentais da criança são extremamente pouco conhecidos. Sobre esse assunto, Piaget vem nos falar que a concepção de “meio” fica limitado ao “meio físico” não incluindo, dessa maneira, as diferentes culturas, as histórias de vida. Para ele, o conhecimento possui raízes biológicas, raízes estas que não levam em consideração as relações sócio culturais construídas através do tempo e do espaço . Na verdade Piaget investigou os processos mentais dos seres humanos na perspectiva de explicar como se dá o processo da apreensão da realidade. Já Vygotsky vai nos dizer que o sujeito através da interação com o outro avança do aspecto biológico para o social histórico. Assim sendo, seriam as nossas relações subjetivas com os nossos contextos sociais que produziriam as nossas imagens internas. Ou seja, é dentro de cada um de nós que se produz a realidade externa; aquilo que eu interpreto como verdade. E a partir daí que eu me transformo. Logo, o ser humano ativo de Piaget ganha em Vygotsky uma dimensão interativa. Passamos a compreender que a criança passa não apenas a construir o seu conhecimento de dentro para fora , mas constrói o seu pensamento a partir das relações sociais que estabelece com o outro..

Por: Liliene Maturana / Lili 15/04/2010

Por: Liliene Maturana / Lili 15/04/2010

Olá pessoas...
Nessa primeira discussão, a leitura do livro “Vendo Vozes e Ouvindo Imagens do autor Oliver Sacks, me fez refletir sobre a minha “notável ignorância” não somente diante do universo dos surdos como também de muitas situações em minha prática educativa. O texto me fez perceber que somos seres sociais e históricos datados num tempo e num espaço marcados pela cultura. Dessa forma, não seria apenas o biológico que estaria em questão, uma vez que é na relação com o outro que nos afirmamos como sujeitos de nossa própria história. Nesse aspecto, ao ler um pequeno texto do Frei Betto publicado no jornal “Estado de São Paulo/2005”, senti-me motivada a fazer a seguinte provocação: e se substituíssemos a frase “ ensina a teu filho” por “ construa com as tuas crianças”?, numa tentativa de perceber nessas imagens, elementos que possam contribuir/dialogar com a minha prática. Nessa perspectiva, também pensei ser interessante fotografar as minhas crianças da pré - escola ( 5 anos) das redes municipais de Duque de Caxias e São João de Meriti, para que de alguma forma eu também pudesse ouvir as suas imagens. Foi nesse momento que surgiu a idéia de fazermos a “ rodinha da memória”. Diferente das demais rodinhas semanais, esta possui o objetivo de ouvir as suas narrativas e investigar através das suas histórias de vida as diferentes possibilidades e sentidos que essa dinâmica apresenta.
Até!

Fragmento do texto de Frei Betto:

“ Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro (...) Ensina a teu filho que não ter talento esportivo, rosto e corpo de modelo, e sentir-se feio diante dos padrões vigentes de beleza, não são motivos para ele perder a sua auto estima(...) Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se se unir aqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto o legado de tua sabedoria. ( Frei Betto- Jornal: Estado de São Paulo - 2005).

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ESTA IMAGEM SURGIU DANDO FORMA A UMA DE TANTAS REFLEXÕES QUE PROPÕE SACKS A SEUS LEITORES, QUE COMO EU, NÃO CONSEGUEM VIRAR UMA PÁGINA SEM AO MENOS, CINCO INDAGAÇÕES SOBRE TODA NOSSA VIDA ENQUANTO PESSOA HUMANA, EDUCADOR, PROFESSOR.
MOSTRANDO PARTE DAS LUTAS DOS SURDOS POR HUMANIDADE, ESTA IMAGEM FOI OUVIDA COMO O CLAMOR DE UMA COMUNIDADE QUE TENTA SOBREVIVER. UM GRUPO CHAMADO AFRORAGGAE EMERGE DO CAOS COMO UMA FORÇA QUE VEM RESGATANDO A AUTO ESTIMA DE SEUS MORADORES QUE, RECONHECENDO SUAS ORIGENS E RAÍZES, PASSAM POR UM PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SUAS BASES, SE REAPROPRIANDO DE SEU PASSADO NA BUSCA INCESSANTE POR DIGNIDADE.